Sertão Negro leva arte, ecologia e ancestralidade à 36ª Bienal de São Paulo

Projeto idealizado por Dalton Paula e Ceiça Ferreira integra práticas culturais, ambientais e sociais no Cerrado e ocupa espaço na Bienal com instalação viva

A 36ª Bienal de São Paulo, intitulada Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, recebe, a partir de 6 de setembro, a participação do Sertão Negro, um projeto que vai além da arte tradicional para entrelaçar práticas culturais, ecológicas e sociais. Fundado pelo artista visual Dalton Paula, representado pela galeria Martins&Montero, e pela pesquisadora Ceiça Ferreira, o Sertão Negro apresenta uma proposta que conecta saberes ancestrais afro-indígenas à criação contemporânea.

Instalado na borda norte de Goiânia desde 2021, o Sertão Negro se manifesta como um centro de prática artística, cuidado ambiental e aprendizagem coletiva, enraizado no bioma do Cerrado. Inspirado nas tradições quilombolas do Território Kalunga, o projeto busca articular soberania cultural, ecológica e social, e agora leva essa proposta para o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

Uma presença que vai além da arte expositiva

Na Bienal, a proposta do Sertão Negro não se limita a uma exposição de obras isoladas. O espaço se organiza como um território vivo, composto por elementos que remetem diretamente às práticas realizadas em Goiânia. Entre as estruturas presentes, destacam-se paredes construídas em taipa de pilão, bancos de sementes, utensílios agrícolas, fragmentos de alimentos e materiais produzidos coletivamente.

A ideia, segundo os organizadores, é sustentar uma presença, não apenas exibir. “Mais do que se exibir, Sertão Negro sustenta uma presença. Paredes de terra, bancos de sementes, fragmentos de vida coletiva — cada elemento aponta para um movimento em continuidade, que a partir da região centro-oeste, articula a arte, a terra e a construção de futuros”, afirma Dalton Paula.

Arte, educação e cuidado com o Cerrado

No território original, o Sertão Negro mantém uma série de ações permanentes: programas de residências artísticas, escola de arte, ateliês, sessões de cineclube, aulas de capoeira angola, além de uma horta agroecológica, viveiro de peixes e biblioteca comunitária.

As construções no espaço, feitas a partir de técnicas como a taipa de pilão e outras formas de bioconstrução, reforçam o compromisso com o meio ambiente e com as práticas sustentáveis. Mais do que criar um espaço para a produção artística, o projeto promove um ciclo integrado de atividades ligadas à soberania alimentar, educação popular e autonomia comunitária.

Com o programa Sertão Verde, por exemplo, o projeto cultiva anualmente mais de duas toneladas de alimentos, valorizando saberes agrícolas afro-indígenas. Já o Sertão Vermelho investe na piscicultura como estratégia de segurança alimentar para a comunidade local.

Foco em artistas negros e LGBTQIA+

Outro pilar do Sertão Negro é o incentivo a artistas negros e LGBTQIA+, sobretudo aqueles vindos de territórios historicamente marginalizados no Brasil e em outros países. Por meio de residências, rodas de estudo, práticas corporais e refeições coletivas, o projeto constrói um espaço onde o aprendizado se dá de forma integrada à vida cotidiana.

“A proposta do Sertão Negro é criar um espaço onde aprender é inseparável de cultivar, cozinhar, viver junto”, destaca Ceiça Ferreira, cofundadora do projeto.

Um território dentro da Bienal

Durante sua participação na 36ª Bienal de São Paulo, o Sertão Negro busca provocar reflexões sobre o que significa ocupar um espaço institucional sem perder as conexões com o território de origem. “Na Bienal, o Sertão Negro aponta para uma pergunta: como carregar, não apenas o nome, mas toda a rede de relações que o torna possível? O que significa tecer um território dentro de um espaço como este?”, indaga Dalton Paula.

A instalação proposta não se encerra em si mesma: ela é um convite para o público refletir sobre outros modos de existência, onde arte, terra, comida, coletividade e ancestralidade se entrelaçam de forma indissociável.

Visitação aberta até janeiro de 2026

A 36ª Bienal de São Paulo estará aberta para visitação pública do dia 6 de setembro de 2025 até 11 de janeiro de 2026, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, dentro do Parque Ibirapuera.

O evento, considerado um dos mais importantes da arte contemporânea mundial, traz nesta edição o tema Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, buscando reunir propostas artísticas que questionem formas de existência e produção de conhecimento.

Além do Sertão Negro, a Bienal reunirá dezenas de artistas nacionais e internacionais, ocupando todo o espaço expositivo com obras que transitam entre pintura, escultura, instalação, vídeo e práticas participativas.

Sobre Dalton Paula

Dalton Paula, um dos fundadores do Sertão Negro, é conhecido por sua produção voltada para temas relacionados à história da população negra no Brasil, ancestralidade e religiosidade. Suas obras já foram expostas em instituições de prestígio como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), Pinacoteca de São Paulo e no The Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York.

Com a criação do Sertão Negro, Dalton amplia o alcance de sua prática para além do circuito institucional, envolvendo diretamente comunidades locais e práticas sustentáveis.

Sobre a galeria Martins&Montero

Parceira de Dalton Paula, a Martins&Montero é uma galeria paulistana que representa artistas contemporâneos brasileiros e internacionais. Localizada na capital paulista, a galeria é conhecida por apoiar projetos que unem arte, política, educação e questões sociais.

Serviço

36ª Bienal de Arte de São Paulo
Título: Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática
Abertura: 6 de setembro de 2025
Visitação: até 11 de janeiro de 2026
Local: Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, São Paulo

Mais informações no site oficial da Bienal: www.bienal.org.br

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